The project 'us for all' was shown for the first time in Rio de Janeiro in June 2016. The exhibition was the result of the Despina art residency that the artist took part for one month. You can read about her work during the residency at http://despina.org/camila-cavalcante/?lang=en

Text by the curator of the Despina Art Residency about the series of work 'Us For All - series 1', published during the exhibition. Text in Portuguese:

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artista em residência _ CAMILA CAVALCANTE

texto _ BERNARDO JOSÉ DE SOUZA


Em meio a uma atmosfera política de turbulência extrema no Brasil, a artista alagoana, residente no Reino Unido, aterriza no Rio de Janeiro disposta a enfrentar uma dentre as tantas questões que vêm dinamitando os alicerces de nossa precária democracia: a proibição do aborto sustentada pelas bancadas evangélica e conservadora no Congresso Nacional.


O recrudescimento de discursos misóginos e cerceadores das liberdades individuais ganhou corpo no ano passado, quando milhares de mulheres (e homens) foram às ruas em todo o país protestar contra o PL 5069, que prevê a criminalização do aborto mesmo em casos de estupro. É na esteira deste processo que Cavalcante orienta a pesquisa artística que ora desenvolve durante residência na Despina | Largo das Artes. O resultado do período de trabalho no país, respaldado pelas diversas manifestações públicas em defesa da democracia a eclodir sobre todo o território brasileiro, ganhou corpo e relevância justamente por dialogar diretamente com questões políticas iminentemente conectadas com o tempo presente.


Neste contexto de inflamado debate, o projeto da artista se apresenta como uma espécie de manifesto político-intimista. A série de fotos exibidas no ateliê de Cavalcante expressam percepções diversas quanto à dramática experiência do aborto, recurso último à gravidez indesejada, o qual se torna ainda mais traumático em função da inexistência de políticas públicas que assegurem o direito a interrupção da gestação quando fruto da decisão da mulher grávida.


A sequência de doze imagens apresenta mulheres fotografadas nuas, em suas casas, com as costas dadas à câmera, abraçadas à artista, que em movimento reverso revela sua face publicamente. A estratégia usada por Cavalcante protege a identidade das mulheres que lhe relataram a experiência de aborto ao passo em que sinaliza o risco de discriminação por elas sofrido socialmente, o que acaba por reforçar a atitude solidária que vem reverberando em setores mais esclarecidos da sociedade, especialmente na ação pública de homens que publicamente decidem defender a causa feminina.


A memória oral das personagens primeiramente entrevistadas, e posteriormente fotografadas, ganha

contornos caligráficos sobre os corpos de ambas as mulheres, tal qual tatuagem, evidenciando as marcas que não apenas a biologia como também a cultura impõem àquelas que encontram no aborto a única maneira de impedir um nascimento que possa ser prejudicial tanto à mãe quanto ao filho, e que só encontra resistência naqueles que ainda buscam impor à sociedade o manto fundamentalista da religiosidade, mesmo em Estados laicos como Brasil.

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